segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Relação de não-relação

        Difícil entender essas relações impostas pelas ocasiões que vivemos. Quando uma pessoa faz bem à outra e essa outra não faz bem à primeira, o que se esperar disso? Se uma encontra na outra a sua sorte e a outra encontra nessa uma sua perdição. Se uma encontra na outra a ajuda, mas sempre deixa a uma na mão. Se uma sabe que sempre tem o apoio e a outra nada além de ilusão. Como se definir essa relação de presença e ausência contínua e permanente?
        Há mais a dizer. Ainda assim há a dependência. A necessidade da notícia, do abraço, do olhar. A saudade de um dia. O costume de passar vários dias sem ver. Costume que logo morre com a saudade que brota ao lembrar que o outro existe. Um se torna a sorte do outro. O outro se torna o azar. Um se torna o protagonista da história, o outro o vilão sem par. Como se definir relações em relação que não há?


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Tudo do lado de lá...

        Me irrita perceber que me roubastes tudo. Desde meu espaço neste mundo até a música que pra fugir do mundo eu escuto. Levastes contigo meu sono, minha fome, e até meu livro de capa de veludo. À minha volta parece estar tudo nulo. Não há pessoas, não há casas ou boticas, não há ruas nem vielas. Não há nada por aqui. Somente eu e essa tua ausência quase palpável.
        As músicas que compõem a trilha da minha vida me trazem você à mente instintivamente. Roubastes até minha banda favorita. E não há ninguém disposto a me resgatar. Parece que levastes para teu lado e teu convívio meus amigos mais próximos e aqueles que nunca antes tivera a possibilidade de lhe apresentar. Acho que estão todos do lado de lá.


        E esse silêncio... a falta da tua voz parece me matar. Falo aos ventos, mas não podes me escutar. Meu sentimento é calado, é este tal sufocado. Deixei pra trás minhas músicas, minhas trilhas, e meu coração em algum lugar. Estou à procura do melhor de mim... e parece que ele partiu contigo também. Por isso cultivo esse espaço vazio, pra quando te encontrar, resgatar o meu melhor que roubastes, mas se for o caso, e quiseres ficar, terá espaço para que fiques também.
        Hoje me sinto imensamente só, mas de fato não creio precisar de muita companhia. Sua ausência já preenche os espaços vazios e até os espaços já preenchidos, vide o tamanho dessa agonia. Mas quando caminho pelas ruas, essas que roubastes também, percebo algo diferente... parece que as cores estão voltando ao normal. A rua volta a ser cinza e as folhas das árvores voltam a ser verdes. E sua ausência parece não mais ferir como outrora fora capaz. A pesar de dilacerar a alma nos dias em que não estás.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Fim de mim


Queria escrever sobre a beleza das flores
Ou sobre a alegria desses raios de sol
Mas hoje em mim, tudo é chuva
É casa fechada, mato sem cigarra, é encolhido caracol


Há dias em que é melhor esquecer os amores
Fechar as janelas para essas insanas dores
Comprar uma passagem e fugir pra Cuba
Ou qualquer lugar que do sol não se faça chuva


Mas pessoa presa por opção 
Não foge por ser seu próprio carcereiro
Não entendo bem de prisões, só sei que cá estou
No meio desse picadeiro


Como centro das atenções alheias, e alheias a mim
Como presa entre as garras de uma ave de rapina
Como por esperar que chegue logo meu próprio fim.