Onde o céu já não era tão azul e as flores já desabrochavam cinza, prontas para
o fim de seu próprio velório. Não havia tristeza naquele lugar. Não havia
alegria, tampouco. Havia, talvez, um gole de terra, uma gota de ar e um punhado
de mar.
A canção que tocava não vinha do peito. O caminho que
traçava, não vinha de lugar algum. Era, simplesmente, aleatório. E
aleatoriamente andava em círculos, ao redor de seu próprio mundo há muito
esquecido. Fazia o caminho por fazer... o refazia somente por instinto.
Seus trajes eram os mais belos e finos maltrapilhos, seu
perfume tinha o mais caro aroma da dor, carregava nos ombros um peso que não sabia se vinha de perto ou de longe, mas se fazia presença constante. O olhar estampava uma lágrima. Mas pelo tempo que
ficou por lá, creio que acostumara-se ali, ambientou-se e se fez residência.
Sua pele carregava as cicatrizes mais profundas. Algumas
saradas, outras deixadas de lado. Seus pés, castigados. Seu andar, esquecido.
Seu olhar, cansado, lento, perdido.
Vira-se como um objeto desnecessário. Sentindo mentiras,
contanto verdades que não devem ser ditas e guardando brinquedos que já não
mais serviam. Tornara-se uma catadora de cacos. E havia muitos, estavam por todos
os lados.
Decidira partir (ou ficar, depende muito do ponto de vista).
Resolvera mergulhar para dentro de si. E nunca mais voltou.
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